Friday, May 11, 2007

Carta Indígena al Papa

10/05/2007 - 18:18 -

Carta dos povos Indígenas ao Papa Bento XVI


A Sua Santidade
Papa Bento XVI
Vossa Santidade,

Nós, representantes dos Povos Indígenas no Brasil, desejamos expressar nossas boas-vindas a Vossa Santidade, em vossa visita às terras brasileiras, tradicionalmente ocupadas por nós, seus antigos habitantes. Queremos também transmitir-vos um pouco de nossa realidade, dos sofrimentos e esperanças de nossas comunidades.

Como deve ser de vosso conhecimento, os Povos Indígenas no Brasil quase chegaram ao extermínio completo ao longo do século XX, tantas foram as perseguições; invasões de territórios; assassinatos; epidemias; esterilização de mulheres indígenas e métodos contraceptivos aplicados pelos governos; abandono e desestruturação de nossas comunidades, num verdadeiro processo de genocídio. No entanto, sempre mantivemos a luta pacífica e persistente por nossos direitos históricos e sempre contamos, nesta luta, com o apoio solidário da Igreja, de inúmeros missionários e missionárias em todo o país.

Conquistamos o reconhecimento de nossos direitos pela Constituição Federal de 1988, passamos então a ter perspectivas de viver conforme nossas culturas e modos de ser e viver em sociedade, voltamos a crescer e somos hoje 241 povos indígenas, falando 180 línguas, cerca de 734 mil pessoas, nas aldeias do interior e nas cidades do Brasil.

Apesar de todas essas conquistas, nossas comunidades ainda sofrem muito com a falta de terra para viver; com as múltiplas formas de violência que se abatem sobre elas por parte dos invasores; com os tristes e freqüentes casos de suicídio de adultos, de jovens e até de crianças; com a mortalidade infantil por doenças e desnutrição; com a dificuldade em serem escutadas e terem seus direitos respeitados pelo Estado Nacional e pela sociedade envolvente.

O assassinato de nossas lideranças continua sendo uma prática dos invasores de nossas terras. Somente nos últimos dez anos, 257 lideranças indígenas foram assassinadas por defender seus territórios. Dentre elas, inclui-se o cacique Xicão Xukuru, que no ano de 1991 foi recebido pelo papa João Paulo II, em sua segunda viagem ao Brasil. Na ocasião Xicão já informava a sua Santidade que era um dos indígenas marcados para morrer. Destino semelhante já havia tido o nosso grande líder Marçal de Souza Tupã-Y, cacique do povo Guarani, que também conversou com papa João Paulo II, ainda em sua primeira viagem ao nosso país, no ano de 1980.

Nos dias que correm, nos preocupa principalmente a ênfase exagerada que o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva vem dando à realização do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Não somos contra o crescimento econômico do país, só não aceitamos que este seja feito com o atropelo de nossas comunidades; de nossos territórios; de nossos rios e de nossas matas; da integridade física e cultural de nossos povos. E é essa mesma integridade que está em risco em diversos projetos econômicos que integram o PAC, como a transposição do Rio São Francisco, no nordeste brasileiro, a construção das usinas hidrelétricas do Estreito, no Rio Tocantins, de Belo Monte, no estado do Pará, e do Rio Madeira, no estado de Rondônia.

Por outro lado, o presidente do Brasil não demonstra pressa alguma em demarcar nossas terras. A Constituição do Brasil, promulgada em 1988, estabeleceu um prazo de cinco anos para que todas as terras indígenas fossem demarcadas. Já se passaram quase 20 anos e apenas 38,24% do total foram demarcadas faltando ainda faltam 61,76%. Essa morosidade intensifica e perpetua os conflitos fundiários e aumenta o índice de violência contra nossas comunidades.

A atitude de nossos Povos frente a essa difícil realidade é a de sempre dialogar, defendendo os nossos direitos, tão duramente conquistados; fundamentalmente nosso direito à Vida.

Continuaremos, em todo o país e de todas as maneiras, a buscar a convivência pacífica e solidária com as demais comunidades que formam o povo brasileiro, numa perspectiva de reconhecimento e respeito à nossa rica diversidade étnico-cultural.

Desejamos transmitir a Vossa Santidade, nestas breves palavras, um pouco de nossas angústias e esperanças, contando com Vossa amizade e solidariedade na construção de um Continente e de um mundo justo e harmonioso, conforme buscaram por séculos nossos ancestrais.

Brasília (SP), 10 de maio de 2007.

http://www.cimi.org.br/

[Traducción al castellano]

Carta de los Pueblos Indígenas al Papa Benedicto XVI

A Su Santidad
Papa Benedicto XVI
Su Santidad:

Nosotros, representantes de los Pueblos Indígenas de Brasil, deseamos darle la bienvenida a Vuestra Santidad, en la visita que realiza a estas tierras brasileñas, tradicionalmente ocupada por nosotros, sus antiguos habitantes. Queremos también transmitirle un poco la realidad, los sufrimientos y esperanzas de nuestras comunidades.

Como debe ser de su conocimiento, los Pueblos Indígenas de Brasil enfrentan una situación de exterminio completo que se ha sucedido a lo largo del siglo XX, tanto en forma de persecuciones, invasiones de territorios, asesinatos, epidemias; esterilización de mujeres indígenas y métodos anticonceptivos aplicado por los gobiernos, abandono y destrucción de nuestras comunidades, un verdadero proceso de genocidio. No obstante, siempre mantenemos la lucha pacífica y persistente por nuestros derechos históricos y siempre contamos en nuestra lucha, con el apoyo solidario de la Iglesia, de numerosos misioneros y misioneras en todo el país.

Conquistamos el reconocimiento de nuestros derechos, por la Constitución Federal de 1988, pasamos entonces a tener perspectivas de vivir conforme a nuestras culturas y modos de ser y vivir en sociedades, volvimos a crecer y hoy somos 241 pueblos indígenas, hablando 180 lenguas, somos cerca de 734 mil personas, en aldeas del interior de las ciudades de Brasil.

A pesar de todas esas conquistas, nuestras comunidades andan sufriendo mucho con la falta de tierra para vivir, con las multiples formas de violencia que se abaten sobre ellas por parte de los invasores, con tristes y frecuentes casos de suicidio de adultos, de jóvenes, de niños, con la mortalidad infantil y desnutrición, con la dificultad de ser escuchados y que nuestros derechos sean respetados por el Estado y por la Sociedad en su conjunto.

El asesinato de nuestros líderes continúa siendo una práctica de los invasores de nuestras tierras. Sólo en los últimos diez años, 257 líderes indígenas fueron asesinados por defender sus territorios. Entre ellos se encontraba el cacique Xicão Xukuru, que en 1981, fue recibido por el Papa Juan Pablo II, en su segundo viaje a Brasil. En aquella ocasión Xicão le informó a su Santidad que era uno de los indígenas marcados para morir. Destino semejante ha tenido nuestro más grande líder Marçal de Souza Tupã-Y, cacique del pueblo Guaraní quien también conversó con Juan Pablo II, durante su primera visita a nuestro país en 1980.

En los días que corren, nos preocupa principalmente el énfasis que el gobierno del presidente Luis Ignacio Lula da Silva va dando a la realización del Programa de Aceleración de Crecimiento (PAC). No estamos en contra del crecimiento económico del país, sólo que no aceptamos que este se realice en base al atropello de nuestras comunidades, de nuestros territorios, de nuestros ríos y de la integridad física y cultural de nuestros pueblos. Es esta misma integridad la que está en riesgo con diversos proyectos económicos que integran la FAC, como son el trasvase del Río San Francisco, en el noreste brasileño; la construcción de las hidroeléctricas de Estreito, en el Río Tocantins, en Belo Monte, en el Estado de Pará y en el Río Madeira, en el Estado de Rondonia.

Por otro lado, el presidente de Brasil no demuestra prisa alguna en demarcar nuestras tierras. La Constitución de Brasil, promulgada en 1988, establecía un plazo de cinco años para que todas las tierras indígenas, fuesen demarcadas. Casi a 20 años apenas el 38.24 % han sido demarcadas, faltando el 61.76% por demarcar. Esta demora intensifica los conflictos y el índice de violencia contra nuestras comunidades.

La actitud de nuestros Pueblos frente a esta difícil realidad es la de dialogar siempre, defendiendo nuestros derechos, tan duramente conquistados; fundamentalmente nuestro derecho a la Vida.

Continuaremos en todo el país y de todas maneras, la búsqueda de la convivencia pacífica y solidaria con las demás comunidades que forman el pueblo brasileño, una perspectiva de reconocimiento y respeto de nuestra rica y diversidad étnico-cultural.

Deseamos transmitir a Vuestra Santidad, estas breves palabras, un poco de nuestras angustias y esperanzas, contando con vuestra amistad y solidaridad en la construcción de un Continente y un mundo justo y armonioso, conforme buscaron por siglos nuestros ancestros.

Brasília (SP), 10 de mayo de 2007

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